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26.6.06

KAPP, Silke. Contra a Integridade.

"A prática arquitetônica do movimento moderno manteve intacta uma série de concepções tradicionais de projeto, cunhadas historicamente pela produção do espaço extraordinário." (Silke)

Extraordinário: objetos excepcionais, monumentais, destinados ao culto, à política e à guerra.
Ordinário: espaço da vida cotidiana.

A figura moderna do arquiteto surge no Renascimento, na construção desses objetos excepcionais. Através do desenho ele passa à condição de trabalhador intelectual e que domina os demais trabalhadores. O espaço ordinário continua sendo produzido sem arquitetos.

Início do séc. XX: Movimento moderno. Os arquitetos passam a produzir o espaço comum, mas projetam casas como se estivessem projetando monumentos. Arquitetura vista como obra de arte, creditada a um autor e com usuários passivos (usuários que contemplam a obra ou personagens seguindo um roteiro pré-estabelecido pelo projeto).

Integridade: inteiro, completo, intacto, não corrompido.
A obra íntegra: dela "nada se pode acrescentar, retirar ou alterar sem torná-la pior" (Alberti).
Arquitetura durante muito tempo foi ensinada no campo das artes, como a pintura ou escultura.
A arquitetura moderna perseguia ideais dessa integridade: verdade estrutural, forma-função.

Paulo Bicca: não há arquitetura monumental sem dominação, porque ninguém vai passar pela penosa tarefa de construir algo que um outro imaginou sem ser coagido para isso.

Na prática, a arquitetura é pensada por poucos e imposta à maioria. A integridade, nesse caso, é a integridade imaginada por esses poucos.
"Qualquer sistema que não dá direito de escolha a quem deve suportar as consequências de uma escolha ruim é um sistema imoral." (Yona Friedman)

O Plano Piloto de Brasília se tornou uma parte ínfima da cidade real. Mas os arquitetos continuam colocando a culpa na incompreensão dos usuários, as escolas continuam ensinando que o projeto deve ter um conceito e as tendências arquitetônicas continuam sendo ideais da integridade: plásticidade, metáforas... "O que o tijolo quer ser..."

A realização da vontade do projetista significa a supressão da vontade do usuário.
Sendo assim, o arquiteto pode ser visto como gerador de instrumentos que facilitem as ações do usuário no espaço.

Auto-organização: possibilidade de autonomia dos indivíduos. Possibilidade de cada um criar suas normas, sem ser obrigado a aceitar imposições externas.

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