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27.6.06

ADORNO, Theodor. Funcionalismo hoje.

Adolf Loos: uma obra de arte não precisa contentar a ninguém, enquanto uma casa tem responsabilidade para com todos.
A crítica do ornamento é a crítica daquilo que perdeu o sentido funcional e resta como algo venenoso ou podre.
A questão do funcionalismo não coincide com a questão da função prática. As artes utilitárias e não-utilitárias não formam a oposição radical que Loos supunha.

Para Adolf Loos seria uma injustiçao criar na arquitetura algo que não foi exigido pelo seu uso.
Para Adorno, "nenhuma forma é inteiramente extraída de sua função". Não existe funcionalidade quimicamente pura. Se o ódio de Loos ao ornamento fosse consequente, ele deveria odiar todas as artes plásticas, cuja própria existência já é ornamental.
A crença de Loos de que o material já carrega seu sentido é uma crença que vem da estética simbolista. É uma idéia que vem do campo das artes. Sendo assim, o culto aos materiais deveria ser tão condenável quanto o culto ao ornamento que Loos tanto pregava.

Funcional atende apenas ao instante presente. O processo social ocorre irracionalmente, sem planejamento, modificando o presente. Com a mudança do presente, o que era funcional deixa de sê-lo.

"Quase todo consumidor deve ter sentido na pele a pouca praticidade do impiedosamente prático". A abdicação do estilo não deixa de ser um estilo.

Frases de Loos:
"...o homem que picha as paredes com símbolos eróticos, ou é um criminoso ou é um degenerado".
"É possível medir a cultura de um país pelo grau em que as paredes dos banheiros estão pichadas".
"O ornamento é força de trabalho, saúde, material e dinheiro desperdiçados".

Só numa abstração, o aspecto expressivo pode ser relegado à arte e retirado dos objetos de uso. O aspecto expressivo é inerente aos objetos de uso. O esforço de se evitar a expressividade do objeto é um tributo a essa expressividade.

Segundo Adorno, Loos condena o ornamento porque está ligado ao prazer. Ornamento = prazer. E de acordo com a moral burguesa do trabalho, prazer é energia desperdiçada.
Ofício: conjunto das práticas que facilitam a vida de quem vai executar o serviço. Loos valorizava o "ofício" em detrimento do "ornamento". Ou seja, a valorização da prática do canteiro de obras, das práticas que, ao contrário da ornamentação, facilitariam a vida do trabalhador ou construtor. Para Adorno, o culto a essas práticas existentes resultaria na mesma repetição morta e coisificada da ornamentação que era criticada por Loos.
O especialista, tão orgulhoso do seu conhecimento técnico, pára de pensar. Pára de refletir.

Uma arquitetura digna de seres humanos (arquitetura legítima) imagina os homens melhores do que realmente são; imaginam-os como poderiam ser..." (ADORNO)
Quando a arquitetura é feita para o homem idealizado (como poderia ser) ela nega ao homem vivo (como ele é) a satisfação de suas necessidades, mesmo que essas necessidades sejam falsas, construídas. Sendo assim, a arquitetura legítima (feita para o homem ideal) é uma inimiga do homem real, porque o priva de suas necessidades.

O funcionalismo é a subordinação à utilidade. Mas essa utilidade deixou de ter como fim atender ao homem para atender ao lucro.
A beleza não está na mera forma, e sim no enfrentamento das contradições que perpassam a construção do objeto.

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