Algumas Propriedades dos Campos - Pierre Bourdieu
Em cada campo se encontrará uma luta, da qual se deve, cada vez, procurar as formas específicas entre o novo que está entrando e que tenta forçar o direito de entrada e o dominante que tenta defender o monopólio e excluir a concorrência.
Um campo, e também o campo científico, se define entre outras coisas através da definição dos objetos de disputas e dos interesses específicos que são irredutíveis aos objetos de disputas e aos interesses próprios de outros campos (não se poderia motivar um filósofo com questões próprias dos geógrafos) e que não são percebidos por quem não foi formado para entrar neste campo.
Para que um campo funcione, é preciso que haja objetos de disputa e pessoas prontas para disputar o jogo, dotadas de habitus que impliquem no conhecimento e no reconhecimento das leis imanentes do jogo, dos objetos de disputa, etc.
As lutas cujo espaço é o campo têm por objeto o monopólio da violência legítima (autoridade específica) que é característica do campo considerado, isto é, em definitivo, a conservação ou a subversão da estrutura da distribuição do capital específico.
Falar de capital específico é dizer que o capital vale em relação a um certo campo, portanto dentro dos limites deste campo, e que ele só é convertível em outra espécie de capital sob certas condições.
Aqueles que monopolizam o capital específico, fundamento do poder ou da autoridade específica característica de um campo, tendem a estratégias de conservação, enquanto os que possuem menos capital tendem a estratégias de subversão.
Esquece-se que a luta pressupõe um acordo entre os antagonistas sobre o que merece ser disputado.
Ser filósofo é dominar o que deve ser dominado na história da filosofia para saber agir como filósofo num campo filosófico.
Esta transformação sistemática dos problemas e dos temas não é o produto de uma pesquisa consciente (e calculada, cínica), mas um efeito automático da vinculação ao campo e do domínio da história específica do campo que ela implica.
Extraído de: Bourdieu, Pierre. 1983. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero. p. 89-94.
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