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21.6.17

FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Pentecostalismo, urbanização e periferia: perspectivas teóricas. Paralellus, v. 2, n. 4, p. 181-192, 2011.

Resumo 

O pentecostalismo, em suas variadas formas, desenvolveu-se no Brasil em paralelo com o processo de urbanização dos grandes centros urbanos e esse é um fato que não deve ser desconsiderado ao se analisar o perfil da população pentecostal brasileira. Dessa forma, o estudo da relação entre os processos de crescimento do pentecostalismo e da formação das periferias nos grandes centros metropolitanos torna-se uma chave para compreensão das práticas e do cotidiano do grupo religioso que mais tem crescido no país nas últimas décadas. 

1 INTRODUÇÃO 

Quando comparadas com as regiões centrais, as áreas de periferia urbana costumam apresentar um índice de presença pentecostal muito maior. Jacob (2003) observou que, na cidade de São Paulo os espaços periféricos da região metropolitana reúnem, freqüentemente, elevados contingentes de fiéis, entre 18% e 30% dos seus habitantes. Assim, em torno dos bairros com melhores condições de vida da cidade, tem-se um verdadeiro anel pentecostal, que se caracteriza pela presença de uma população com baixos níveis de educação e de rendimentos. (JACOB et al., 2003, p.161). 

2 URBANIZAÇÃO DAS METRÓPOLES BRASILEIRAS 

Santos (2005) classifica a urbanização brasileira como um processo que teve um tímido início em meados do século XVIII e que apenas se consolida na segunda metade do século XX com o processo de metropolização, ou seja, com o surgimento de aglomerados urbanos que ultrapassam a cifra de um milhão de pessoas. Para o autor, tal processo acaba por originar uma situação de macrocefalia urbana, cujo crescimento não é acompanhado de políticas públicas de inserção dos grupos mais pobres a condições dignas de sobrevivência. 

Para suprimento da mão de obra necessária para o desenvolvimento industrial de tais metrópoles brasileiras, fluxos populacionais passam a chegar aos grandes centros urbanos e são “empurrados” para regiões de periferia, onde a ausência de serviços públicos e consequente queda no preço de terrenos permitem ao migrante a aquisição de pequenos lotes em terrenos nem sempre legalizados e integrados à cidade estabelecida (MARICATO, 2001). Com a aquisição de tais terrenos, dá-se início ao processo de autoconstrução de moradias. 

Dessa forma, pode-se entender a periferia como resultante do processo de construção do espaço urbano, processo esse moldado de acordo com os interesses do capital, que produzem as diferenças socioeconômicas tão evidentes em regiões periféricas (SANTOS, 2005). 
Harvey (2006) 

Baseando-se na teoria marxista, analisa como o empreendedorismo capitalista influencia o crescimento desigual das grandes metrópoles, gerando uma prejudicial concentração de renda nas mãos das classes mais abastadas. 

Caldeira (2000) discute esse processo no caso específico da cidade de São Paulo. Para a autora, a cidade experimentou três padrões de segregações no decorrer do século XX. No primeiro deles, predominante no início do século até os anos 1940, ricos e pobres concentravam-se em uma pequena faixa urbana e a segregação ocorria pela diferença entre as moradias. 

No segundo momento, entre os anos 1940 e 1980, destaca-se o padrão centro-periferia. Neste período, as classes média e alta moram em confortáveis casas da região central da cidade, enquanto a mão de obra migrante que chegava à cidade ocupava regiões cada vez mais afastadas do centro, onde a falta de infraestrutura garantia maiores facilidades para aquisição de terrenos. 

O terceiro momento da urbanização paulistana proposto por Caldeira, na década de 1980, acontece quando grupos da classe alta deixam o centro da cidade e passam a morar em locais afastados, porém em enclaves fortificados, criando um ambiente de forte segregação em relação aos seus vizinhos. 

A multiplicação de empreendimentos imobiliários em condomínios fechados de alto padrão em regiões distantes do centro da cidade acaba por minar o padrão de segregação centro-periferia, já que pobres e ricos estão bastante próximos, porém separados por altos muros. 

As reflexões de Caldeira nos ajudam a pensar o conceito de periferia não como resultado de mero posicionamento no mapa. A periferia pode estar no centro físico da cidade, bem como a riqueza próxima de suas fronteiras. Indicadores de ordem social e econômica garantem a maior parte do peso do conceito periferia. 

3 MIGRAÇÃO E MODO DE VIDA NA PERIFERIA 

4 PENTECOSTALISMO E REDES SOCIAIS 

Para D'Epinay, o pentecostalismo apresenta uma resposta à anomia social sentida pelo indivíduo em sua integração ao mundo urbano. Essa mesma idéia é compartilhada por Camargo (1973), que observa que o contingente de fiéis pentecostais são provenientes de áreas de desorganização social, onde a religião atua no processo de adaptação social. 

Os dados do Censo confirmam a ideia de que o pentecostalismo está presente em regiões com menor presença do Estado (JACOB et al, 2003). Apesar da pluralidade pentecostal não nos permitir falar de um movimento uniforme, pode- se observar que as formas pentecostais que mais crescem no Brasil são aquelas vistas com maior frequência na periferia urbana. 

Na observação das práticas pentecostais entre os migrantes na periferia não deve deixar de ser levado em conta o papel que as igrejas desempenham como redes sociais que contribuem para a aquisição de capital social por parte daqueles que delas se aproximam. 

Em uma cultura urbana que valoriza a impessoalidade e o individualismo (CASTELLS, 2000), o vínculo criado entre parentes (no caso da rede familiar), entre pessoas nascidas na mesma localidade ou região (no caso das redes de conterrâneos) ou entre indivíduos com interesses comuns (no caso das associações de bairros), o associativismo, formal ou informal, se transformasse em uma forma de aquisição de capital social. 

Lavalle e Castello (2004, p. 78) destacam que: “micro contextos urbanos definidos pela segregação espacial tendem a reforçar [...] práticas associativas vinculadas a contextos locais, mostrando-se particularmente sensíveis a mudanças nas configurações locais do capital social”. 

A atividade associativa observada com maior frequência nas áreas de periferias urbanas é o associativismo religioso. 

O morador da periferia encontra, nos templos evangélicos, um caminho para a atenuação das carências oriundas da vulnerabilidade social a que está submetido. Assim, a igreja torna-se um meio de aquisição de capital social e suprimento de necessidades: As redes evangélicas trabalham em favor da valorização da pessoa e das relações pessoais, gerando aumento de auto-estima e impulso empreendedor no indivíduo, mas também fomentam a ajuda mútua por meio de laços de confiança e fidelidade. Nos templos há circuitos de trocas que envolvem dinheiro, alimentos, utensílios, informações, recomendações de trabalho etc. (ALMEIDA; D'ANDRÉA, 2004, p.103).

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