O
proletariado industrial
O
nível cultural dos diferentes trabalhadores está intimamente ligado
às suas relações com a indústria: enquanto os operários
industriais têm mais consciência de seus interesses, os mineiros a
têm em grau menor e, entre os operários agrícolas, essa
consciência quase não existe.
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Já
assinalamos de passagem que a indústria centraliza a propriedade em
poucas mãos, exige enormes capitais, com os quais cria gigantescos
estabelecimentos, arruinando a pequena burguesia artesã e, colocando
a seu serviço as forças naturais, expulsa do mercado os
trabalhadores manuais isolados.
A
tendência centralizadora da indústria, contudo, não se esgota
nisso. Também a população se torna centralizada, como o capital
O
grande estabelecimento industrial demanda muitos operários, que
trabalham em conjunto numa mesma edificação; eles devem morar
próximo e juntos – e, por isso, onde surge uma fábrica de médio
porte, logo se ergue uma vila.
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Nas
grandes cidades, a centralização da propriedade atingiu o mais alto
grau; nelas só existe uma classe rica e uma classe pobre,
desaparecendo dia a dia a pequena burguesia.
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As
grandes cidades
Esses
milhares de indivíduos, de todos os lugares e de todas as classes,
que se apressam e se empurram, não serão todos eles seres humanos
com as mesmas qualidades e capacidades e com o mesmo desejo de serem
felizes?
Entretanto,
essas pessoas se cruzam como se nada tivessem em comum, como se nada
tivessem a realizar uma com a outra
Essa
indiferença brutal, esse insensível isolamento de cada um no
terreno de seu interesse pessoal é tanto mais repugnante e chocante
quanto maior é o número desses indivíduos confinados nesse espaço
limitado.
Essa
atomização do mundo, é aqui levada às suas extremas
consequências.
Tal
como o amigo Stirner, os homens só se consideram reciprocamente como
objetos utilizáveis: cada um explora o outro
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É
óbvio que todos os ônus de uma tal situação recaem sobre o pobre.
Se
tem a sorte de encontrar trabalho, isto é, se a burguesia lhe faz o
favor de enriquecer à sua custa, espera-o um salário apenas
suficiente para o manter vivo; se não encontrar trabalho e não
temer a polícia, pode roubar; pode ainda morrer de fome, caso em que
a polícia tomará cuidado para que a morte seja silenciosa para não
chocar a burguesia.
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Todas
as grandes cidades têm um ou vários “bairros de má fama” onde
se concentra a classe operária. É certo ser frequente a miséria
abrigar-se em vielas escondidas, embora próximas aos palácios dos
ricos; mas, em geral, é-lhe designada uma área à parte, na qual,
longe do olhar das classes mais afortunadas, deve safar-se, bem ou
mal, sozinha.
Examinemos
alguns desses bairros miseráveis.
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É
uma massa desordenada de casas de três ou quatro andares, com ruas
estreitas, tortuosas e sujas, onde reina uma agitação tão intensa
como aquela que se registra nas principais ruas da cidade
Os
mercados são as próprias ruas.
As
casas são habitadas dos porões aos desvãos, sujas por dentro e por
fora e têm um aspecto tal que ninguém desejaria morar nelas.
É
difícil encontrar um vidro intacto, as paredes estão em ruínas, os
batentes das portas e os caixilhos das janelas estão quebrados ou
descolados
Aqui
vivem os mais pobres entre os pobres, os trabalhadores mais mal
pagos, todos misturados com ladrões, escroques e vítimas da
prostituição.
Muitas
vezes esses miseráveis refúgios do pior pauperismo se encontram
próximos dos suntuosos palácios dos ricos.
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E a
esses infelizes, entre os quais nem sequer os ladrões esperam
encontrar algo para roubar, as classes proprietárias, por meios
legais, como os exploram!
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Ouçamos
o que diz o senhor g. Alston, pastor de st. Philip, bethnal green,
acerca das condições de sua paróquia: A paróquia envolve 1.400
casas, habitadas por 2.795 famílias, ou seja, quase 12 mil pessoas.
o espaço em que vive essa grande massa mede menos de 400 jardas
quadradas (1.200 pés) e, num tal amontoamento, não é raro
encontrar-se um homem, sua mulher, 4 ou 5 filhos e, às vezes, também
o avô e a avó, num só cômodo de 10 ou 12 pés quadrados, onde
trabalham, comem e dormem.
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Afirmo
que milhares de famílias honestas e laboriosas encontram-se em
condições indignas de seres humanos e que todo proletário, sem
qualquer exceção, sem que a culpa seja sua e apesar de todos os
seus esforços, pode ter o mesmo destino.
Todas
as manhãs, em Londres, 50 mil pessoas acordam sem a menor ideia de
onde repousarão a cabeça na noite seguinte.
Vejamos
o que diz o Times de 12 de outubro de 1843:
É
assustador que, no próprio recinto da riqueza, da alegria e da
elegância, junto à grandeza real de St. James, nas proximidades do
esplêndido palácio de bayswater, onde se encontram o velho e o novo
bairros aristocráticos, numa área da cidade onde o requinte da
arquitetura moderna prudentemente impediu que se construísse
qualquer moradia para a pobreza, numa área que parece consagrada ao
desfrute da riqueza, é assustador que exatamente aí venham
instalar-se a fome e a miséria, a doença e o vício, com todo o seu
cortejo de horrores, destruindo um corpo atrás de outro, uma alma
atrás de outra!
O
máximo prazer proporcionado pela saúde física, a atividade
intelectual, as mais inocentes alegrias dos sentidos lado a lado com
a miséria mais cruel! A riqueza que, do alto de seus salões
luxuosos, gargalha indiferente diante das obscuras feridas da
indigência!
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Galinhas
transformam as armações das camas em poleiros, cães e até cavalos
dormem com as pessoas nos mesmos quartos e, em consequência,
sujeira, insetos e miasmas enchem os aposentos.
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Num
periódico inglês5, em artigo sobre as condições sanitárias dos
operários da cidade, lê-se:
Nessa
parte da cidade não há esgotos, banheiros públicos ou latrinas nas
casas; por isso, imundícies, detritos e excrementos de pelo menos 50
mil pessoas são jogados todas as noites nas valetas, de sorte que,
apesar do trabalho de limpeza das ruas, formam-se massas de esterco
seco das quais emanam miasmas que, além de horríveis à vista e ao
olfato, representam um enorme perigo para a saúde dos moradores.
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Encontramos
o mesmo quadro nas cidades industriais. Em Nottingham há, ao todo,
11 mil habitações, das quais 7 mil ou 8 mil estão de tal modo
coladas umas às outras que nenhuma ventilação é possível;
ademais, na maioria dos casos, uma só latrina serve a várias
moradias.
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As
cidades são irregulares e mal construídas, com pátios sujos, ruas
e ruelas cheias de fuligem e têm um aspecto particularmente
repugnante porque o tijolo – que constitui o material mais usado
nas edificações –, sob a ação da fumaça, perde de todo a
coloração vermelha e torna-se enegrecido. O mais comum são as
moradias nos porões; eles são construídos onde quer que seja
possível e neles vive parte muito considerável da população.
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Manchester
é construída de um modo tão peculiar que podemos residir nela
durante anos, ou entrar e sair diariamente dela, sem jamais ver um
bairro operário ou até mesmo encontrar um operário – isso se nos
limitarmos a cuidar de nossos negócios ou a passear. A razão é que
– seja por um acordo inconsciente e tácito, seja por uma
consciente e expressa intenção – os bairros operários estão
rigorosamente separados das partes da cidade reservadas à classe
média ou, quando essa separação não foi possível, dissimulados
sob o manto da caridade.
Excetuada
essa zona comercial, toda a Manchester não é mais que um único
bairro operário que, com uma largura média de uma milha e meia,
circunda como um anel a área comercial.
Manchester
tem, em seu centro, um bairro comercial bastante grande, com cerca de
uma milha e meia de comprimento e outro tanto de largura, composto
quase exclusivamente por escritórios e armazéns (warehouses).
A
alta e a média burguesia moram fora desse anel. A alta burguesia
habita vivendas de luxo, ajardinadas, mais longe, em grandes e
confortáveis casas, servidas, a cada quinze ou trinta minutos, por
ônibus que se dirigem ao centro da cidade. A média burguesia vive
em ruas boas, mais próximas dos bairros operários.
O
curioso é que esses ricos representantes da aristocracia do dinheiro
podem atravessar os bairros operários, utilizando o caminho mais
curto para chegar aos seus escritórios no centro da cidade, sem se
aperceber que estão cercados, por todos os lados, pela mais sórdida
miséria.
De
fato, as principais ruas que, partindo da bolsa, deixam a cidade em
todas as direções, estão ocupadas, dos dois lados, por lojas da
pequena e da média burguesias, que têm todo o interesse em
mantê-las com aspecto limpo e decoroso.
Tais
lojas sempre dão conta de esconder dos ricos senhores e de suas
madames, de estômago forte e nervos frágeis, a miséria e a sujeira
que são o complemento de seu luxo e de sua riqueza.
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Assim,
conhecendo a cidade, é possível, pelo aspecto dos trechos das ruas
principais, deduzir o tipo de bairro contíguo; mas, dessas ruas, é
extremamente difícil contemplar de fato os bairros operários. Sei
perfeitamente que essa disposição urbana hipócrita é mais ou
menos comum a todas as grandes cidades; também sei que os
comerciantes varejistas, pela própria natureza de seu negócio,
devem ocupar as ruas principais; sei igualmente que nessas ruas, em
toda parte, encontram-se edificações mais bonitas que feias e que o
valor dos terrenos que as rodeiam é superior ao daqueles dos bairros
periféricos; entretanto, em lugar nenhum como em Manchester
verifiquei tanta sistematicidade para manter a classe operária
afastada das ruas principais, tanto cuidado para esconder
delicadamente aquilo que possa ofender os olhos ou os nervos da
burguesia.
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É
oportuno fazer agora algumas observações gerais sobre o tipo de
construção dos bairros operários de Manchester. Já vimos que, na
cidade velha, frequentemente o arbítrio presidia ao agrupamento das
edificações. Cada casa foi construída sem que se tivessem em conta
as outras.
Nas
zonas um pouco mais recentes desse mesmo bairro, e em outros bairros
que datam dos primeiros tempos do desenvolvimento industrial,
verifica-se um esboço de plano. O espaço entre duas ruas é
dividido em pátios mais regulares, a maioria deles quadrangular
Tais
pátios se comunicam com as ruas através de passagens cobertas.
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Mais
recentemente, adotou-se um outro sistema de construção, agora usado
comumente. As casas não se constroem mais de forma isolada, mas às
dúzias ou mesmo às grosas, por um único empreiteiro que se
encarrega de uma ou duas ruas. elas se dispõem da seguinte maneira:
uma das fachadas compreende as casas da primeira fila, que têm a
sorte de possuir uma porta traseira e um pequeno quintal – e, por
isso, seu aluguel é mais caro; por trás delas, há uma estreita
ruela, a rua dos fundos (back street), fechada em ambas as
extremidades e cujo acesso é lateral, um estreito caminho ou uma
passagem coberta; as casas que dão para essa ruela são as que têm
o aluguel mais barato e são as mais descuidadas; as paredes
traseiras são comuns às casas da terceira fila, que dão para o
lado oposto da rua e correspondem a um aluguel mais alto que os das
casas da segunda fila, mas inferior ao das casas da primeira. A
disposição geral é mais ou menos a da página seguinte. com esse
sistema, a ventilação das casas da primeira fila é bastante boa e
a daquelas da terceira fila pelo menos não é pior que a das
edificações erguidas no velho sistema; em compensação, a fila do
meio é tão mal arejada quanto as habitações nos pátios e as
ruelas dos fundos são tão sujas quanto os pátios. os empreiteiros
preferem esse sistema porque poupa espaço e permite-lhes explorar
ainda mais os trabalhadores que ganham melhores salários,
cobrando-lhes os aluguéis mais caros das casas da primeira e da
terceira filas.
Aqui,
torna-se impossível a renovação do ar; as chaminés das casas –
se o fogo não está aceso – constituem as únicas saídas para o
ar viciado dos pátios10.
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Pude
ver muitas casas em que as paredes externas não eram mais que
paredes de meio-tijolo, ou seja, eles vinham justapostos pelo lado
mais estreito, não do comprimento e sim da largura. Esse
procedimento é utilizado não só para economizar material, mas
ainda porque os construtores nunca são os proprietários dos
terrenos – segundo o costume inglês, os construtores alugam o
terreno por vinte, trinta, quarenta, cinquenta ou mesmo noventa anos,
ao fim dos quais o proprietário o recupera com todas as
benfeitorias, sem pagar nada por elas. Por isso, o locatário do
terreno calcula o preço das benfeitorias de forma a que tenham o
menor valor possível ao final da locação
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O
operário é constrangido a viver nessas casas já arruinadas porque
não pode pagar o aluguel de outras em melhor estado, porque não
existem moradias menos ruins na vizinhança das fábricas ou porque,
ainda, elas pertencem ao industrial e este só emprega os que aceitem
habitá-las.
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Devemos
acrescentar que numerosas famílias, dispondo de apenas um cômodo,
não obstante recebem pensionistas e hóspedes por noite em troca de
algum dinheiro e não é raro que pensionistas e hóspedes de ambos
os sexos se deitem na mesma cama com o casal.
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Eis
o que se pode afirmar acerca das habitações dos operários nas
grandes cidades: o modo como é satisfeita a necessidade de um teto é
um critério que nos permite saber como são satisfeitas as outras
necessidades.
É
muito fácil concluir que nesses sujos covis só pode morar uma
população esfarrapada e mal alimentada. Justa conclusão. As roupas
da esmagadora maioria dos operários estão em péssimas condições,
os tecidos empregados em sua confecção são os menos apropriados
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O
que é verdade para o vestuário, é-o também para a alimentação.
Aos trabalhadores resta o que repugna à classe proprietária. nas
grandes cidades da Inglaterra, pode-se ter de tudo e da melhor
qualidade, mas a preços proibitivos e o operário, que deve
sobreviver com poucos recursos, não pode pagá-los.
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Em
geral, as batatas que adquire são de má qualidade, os legumes estão
murchos, o queijo envelhecido é mau, o toucinho é rançoso e a
carne é ressequida, magra, muitas vezes de animais doentes e até
mesmo já em decomposição.
Como
à meia-noite de sábado as mercearias têm de fechar e nada pode ser
vendido no domingo, as sobras que se estragariam até segunda-feira
de manhã são liquidadas, a partir das dez horas da noite do sábado,
a preços irrisórios, embora nove décimos desses restos já não
sejam comestíveis no domingo de manhã; mas precisamente essas
sobras constituem o prato dominical da classe mais pobre, que as
compra. Nessas circunstâncias, a carne vendida aos operários é
intragável; porém, uma vez comprada, é consumida.
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Os
operários, entretanto, ainda são ludibriados de outra maneira pela
cupidez da classe média. Os varejistas e os fabricantes adulteram
todos os gêneros alimentícios do modo mais irresponsável, com
inteiro desprezo pela saúde dos que devem consumi-los.
Vende-se
manteiga salgada como manteiga fresca, cobrindo-a com uma camada de
manteiga fresca.
Ao
açúcar, mistura-se farinha de arroz ou outros gêneros baratos,
assim vendidos a preços altos; até mesmo resíduos de sabão são
misturados a outras substâncias e vendidos no açúcar. Mistura-se
chicória ou outros produtos de baixo preço ao café moído; ao café
não moído, dando-se-lhes forma de grãos, também se misturam
outros artigos. também é frequente misturar-se ao cacau uma
finíssima terra escura que, banhada em gordura de carneiro, deixa-se
mesclar facilmente com o cacau verdadeiro.
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O
rico não é enganado porque pode pagar os preços altos dos grandes
estabelecimentos comerciais, que devem zelar por seu bom nome e
prejudicariam a si mesmos se vendessem mercadorias de baixa qualidade
ou adulteradas; o rico, acostumado à boa mesa, tem o paladar apurado
e descobre a fraude com mais facilidade. Todos os gêneros
falsificados, ou até envenenados, destinam-se ao pobre, ao operário.
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Mas
não é só no que toca à qualidade que o operário inglês é
logrado; também o é no que tange à quantidade. Em sua grande
maioria, os peque-nos comerciantes têm medidas e pesos adulterados e
os relatórios policiais registram diariamente um número incrível
de delitos desse gênero.
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A
alimentação habitual de cada operário varia naturalmente em função
do salário. os operários mais bem pagos, em especial os operários
fabris, em cuja família todos os membros conseguem ganhar alguma
coisa, têm – enquanto essa situação perdura – uma boa
alimentação: carne todos os dias e, à noite, toucinho e queijo.
Nas famílias que ganham menos, só há carne aos domingos ou, às
vezes, em dois ou três dias da semana; em compensação, comem-se
mais batata e pão. À medida que descemos na escala salarial,
verificamos que a alimentação à base de carne se reduz a alguns
pedaços de toucinho misturados à batata; descendo ainda mais, até
o toucinho desaparece, permanecendo o queijo, a batata, o pão e o
mingau de aveia (porridge); quando chegamos aos irlandeses, restam
apenas as batatas como único alimento. geralmente, a comida é
acompanhada de um chá ligeiro, mesclado com um pouco de açúcar,
leite ou aguardente.
Mas
tudo isso só é verdade se o operário está empregado;
desempregado, fica à mercê da sorte e come o que lhe dão, o que
mendiga ou... o que rouba – e se não encontra nada, simplesmente
morre de fome, como já dissemos.
Por
isso, aí se recorre a todos os expedientes: cascas de batatas,
restos de legumes, vegetais apodrecidos16, tudo serve como alimento,
recolhe-se tudo que pode conter um só átomo de substância
comestível.
À
guisa de conclusão, resumamos os fatos. As grandes cidades são
habitadas principalmente por operários, já que, na melhor das
hipóteses, há um burguês para dois, muitas vezes três e, em
alguns lugares, quatro operários; esses operários nada possuem e
vivem de seu salário, que, na maioria dos casos, garante apenas a
sobrevivência cotidiana. A sociedade, inteiramente atomizada, não
se preocupa com eles, atribuindo-lhes o encargo de prover suas
necessidades e as de suas famílias, mas não lhes oferece os meios
para que o façam de modo eficaz e permanente. Qualquer operário,
mesmo o melhor, está constantemente exposto ao perigo do desemprego,
que equivale a morrer de fome e são muitos os que sucumbem. Por
regra geral, as casas dos operários estão mal localizadas, são mal
construídas, malconservadas, mal arejadas, úmidas e insalubres;
seus habitantes são confinados num espaço mínimo e, na maior parte
dos casos, num único cômodo vive uma família inteira; o interior
das casas é miserável: chega- -se mesmo à ausência total dos
móveis mais indispensáveis. o vestuário dos operários também é,
por regra geral, muitíssimo pobre e, para uma grande maioria, as
peças estão esfarrapadas. A comida é frequentemente ruim, muitas
vezes imprópria, em muitos casos – pelo menos em certos períodos
– insuficiente e, no limite, há mortes por fome. A classe operária
das grandes cidades oferece-nos, assim, uma escala de diferentes
condições de vida: no melhor dos casos, uma existência
momentaneamente suportável – para um trabalho duro, um salário
razoável, uma habitação decente e uma alimentação passável (do
ponto de vista do operário, é evidente, isso é bom e tolerável);
no pior dos casos, a miséria extrema – que pode ir da falta de
teto à morte pela fome; mas a média está muito mais próxima do
pior que do melhor dos casos. e essa escala não se compõe de
categorias fixas, que nos permitiriam dizer que esta fração da
classe operária vive bem, aquela mal, enquanto as coisas permanecem
como estão; ao contrário: se, no conjunto, alguns setores
específicos gozam de vantagens sobre outros, a situação dos
operários no interior de cada segmento é tão instável que
qualquer trabalhador pode ter de percorrer todos os degraus da
escala, do modesto conforto à privação extrema, com o risco da
morte pela fome – de resto, quase todos os operários ingleses têm
algo a dizer sobre notáveis mudanças do acaso. são as causas de
tudo isso que agora examinaremos mais de perto.
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